Um Natal inusitado
O Natal estava quase chegando de novo, mas parece que ninguém
se lembrara daquele humilde e singelo povo, escondido sobre uma montanha nevada
e muito gelada! As casas já estavam enfeitadas, todas da mesma cor, lembravam
casebres de contos de fadas, e a neve que caía sobre os telhados, parecia feita
de um caramelo branco açucarado. Um homem fardado voltava de alguma guerra, ou
talvez de alguma expedição desconhecida. A vida no vilarejo era tão pacata, até
um pouco sem graça! Naquela noite, fria e congelada, crianças eram vistas pelas
janelas brincando de guerra de almofadas! Era um rigoroso inverno, mas um
senhor de gravata e terno muito corajoso, passeava com seu Bulldog inglês extremamente
gordo. Muitos pinheiros enfileirados cobriam as ruas, que escondiam o brilho da
lua, sobre o sul das montanhas. Todas as casas estavam iluminadas por pequenos
lampiões e por enormes guirlandas com enfeites de algodão. Em uma das varandas,
uma das crianças gritava quando caiu sobre o chão escorregadio. Estava tão frio.
Um senhor carregava um barril de vinho tinto. Uma senhora tomava uma xícara de
café, enquanto uma avó bem grisalha fazia um cafuné em seu neto. Dava para
ouvir o barulho da neve caindo sobre o teto! O concreto das casas já estava
todo esbranquiçado. O sol não aparecera há dias e o céu estava sempre nublado. Alguns
visitantes chegavam da cidade vizinha mais próxima que ficava apenas a 5 km de
distância do pequeno vilarejo. A escuridão sombria, até dava medo, e as
estrelas zelavam por seus segredos!
Era véspera de Natal, e uma mãe muito apressada cozinhava
mingau com açúcar e canela para seu filho. Um vagabundo andarilho caminhava
sozinho, perdido pela estrada. Algum morador dissera ter ouvido um ruído estranho
na última madrugada, mas por certo, era apenas impressão, algum galho de árvore
caído no chão, não seria nada! Ou talvez fosse o Papai Noel, um duende, ou uma
bruxa malvada, ou uma rena entalada na chaminé.
̶ Ou talvez um gnomo, alguém aceita mais um café? –
disse o mordomo de uma casa ao lado.
̶ Não beba tanto vinho, senão no dia seguinte,
vais acordar cansado, de ressaca! – disse algum convidado que não calava a
matraca.
Alguém ouvira outro ruído vindo novamente do telhado. Deve
ser um gambá apressado. Em seguida, uma jovem abre a janela, e observa crianças
brincando com um boneco de neve, quase na avenida. Uma pequena criança chorava
perdida no meio fio da calçada. Sua mãe meio maluca brincava de esconde-esconde
e dava risadas! De repente um grito! Uma senhorinha houvera sido assaltada, mas
apenas levaram sua bolsa de tricô! Um casal apaixonado, com as luzes do quarto
apagadas, trocava um beijo de amor. Enquanto um adolescente apavorado assistia
alucinado a um filme de terror. Toca a campainha! Era apenas a vizinha, pedindo
um vidro de canela emprestado para a sua torta de pêssego com maçã. De repente,
outro grito vem da cozinha, aparece um senhor meio magro com uma machadinha na
mão! O adolescente se assusta, e acelera o seu coração. Era apenas sua tia que
estava caçando tatu e sem querer quase queimou o peru! Nesta vila no interior
dos Estados Unidos, todos se conheciam, todos eram amigos. Numa das casas, logo
ali em frente, um bandido meio ferido roubava presentes. Sua família não tinha
dinheiro, muito carente, e seu filho muito inocente, sonhava em ser presidente!
Mas uma simpática velhinha muito querida, comovida com o assaltante, lhe
oferecera uma bebida, uma dose de rum e dois refrigerantes. O vizinho da casa
três tinha uma amante e fingia que sabia falar francês. Era Dezembro, final do
mês, e as pessoas se cumprimentaram desejando boas festas uns aos outros. No
ano de 2022, todos haviam feito uma promessa, quase que uma reza, para afastar
qualquer fantasma ou assombração. A vizinha do dezoito tinha asma e pressão
alta e comia biscoitos amanteigados. Pois todo ano, naquele condado alguém
morria de antemão, quando o relógio marcasse meia-noite. Ninguém sabia dizer se
aquela situação era alguma maldição, ou simplesmente superstição! Talvez apenas
uma lenda de antepassados... Mas alguém ouvira dizer que no ano passado, um
casal de namorados foi encontrado morto de olhos arregalados, meio tortos, em
frente ao fogão à lenha! A cunhada que estava prenha, estava dormindo no andar
de cima, e foi acordada aos prantos por sua prima, que escutara uma explosão,
quando pegara no sono, assistindo televisão! Parece que alguém esquecera o
forno ligado, apenas restou o peru, todo queimado!
O mordomo do nove era meio esquisito, tinha olheiras e matava
moscas e mosquitos. O que foi? Parece que alguém ouviu outro grito!
̶Fantasmas não existem, é apenas um mito. – comentou um
parente distante!
Devem ser os gemidos da nova amante do morador do três! O
adolescente continuava assistindo seus filmes de terror apenas em inglês.
̶ Mãe já está pronta a ceia? – indagou o menino esfomeado que
comia pipoca no sofá.
̶ Não, cear antes da meia-noite dá azar! – respondeu a mãe.
̶ Alguém aceita uma fatia de rabanada? – ofereceu a cunhada.
̶ Prefiro esperar a empada de azeitonas com palmito! – disse a
senhorinha.
Pânico! Outro grito, alguém avistou um vulto lá fora na
varanda! Era apenas o andarilho comendo frutinhas em sua vianda. O louco do
treze afirmou ter avistado um panda pela janela!
̶ Alguém pode bater as
claras em neve, senão ela desanda! – disse a avó.
̶ Onde está a Amanda? Parece que ela desapareceu, sumiu! –
perguntou o tio.
̶ Deve estar na
garagem, ensaiando com a banda. – disse o mordomo.
- ̶ O assassino vai matar a Miranda! – urrou o adolescente,
mordendo os dedos.
Novamente, soa a campainha, e Miranda, a nova vizinha vai
atender a porta! Toca o telefone, algum mistério, algum segredo? É o coveiro
ligando do cemitério, dizendo que já limpou a sepultura do avô Pietro.
̶ Mas o avô Pietro nem morreu ainda! Está lá na sala deitado
na cadeira de balanço conversando com seu ganso imaginário! – disse o vizinho
do dez de uma perna só, que teve um derrame jogando xadrez ou dominó? Ninguém
lembrava ao certo!
- ̶ Que barulho foi esse tio Mário?
̶ Não foi nada, apenas
a porta do meu armário que deve ter despencado!
O assaltante atravessava a praça armado! Dois minutos para a
meia-noite! Todos estavam reunidos para a ceia de Natal! Muitos pedidos e o
arroz com castanhas e uvas passas, já seria servido. A carne de porco estava
sendo assada na grelha, Amanda tinha quatro piercings, dois em cada orelha, um
no nariz e um na sobrancelha. Sobre a mesa, champanhe para os adultos e suco de
groselha para as crianças! O avô Pietro enchia a pança com pasta de amendoim. A
neve havia congelado todas as plantas do jardim. Todos esperavam ansiosos pelo
jantar natalino. O louco do treze disse que viu na floresta um urso polar
atacando um menino. Do outro lado da rua, um lobo uiva, e o adolescente diz ser
apaixonado por uma menina ruiva que jamais alguém houvera visto. Meia-noite
toca o sino da igreja, o padre festeja o nascimento de Cristo. Na mesa, muita
fartura, muitos petiscos, quitutes e sobremesas.
̶ Alguém viu o tio Conrado? – Sentiu a sua ausência Amanda.
̶ Sumiu também a vizinha Miranda! – percebeu algum convidado.
̶ Deve estar trancada
no banheiro com algum namorado! – disse a mãe.
Toca a campainha! Será outra vizinha? É o coveiro que está
apenas de passagem para informar que o tio Conrado fora atropelado quando fora
buscar pinhos para enfeitar o condado! Pelo caminho, ele se distraiu olhando um
veado campeiro, que saiu em disparada após um tiro quase certeiro! Muitos
presentes! O louco grita que alguém está ausente! A cadeira de balanço balança
sem o avô, ele morreu repentinamente engasgado com uma casca de amendoim,
assistindo filme pornô! Enquanto isso, a senhorinha fazia tricô! Que horror! Feliz
Natal!
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