Noites sem fim
Noite quente calor intenso, não há sinal da brisa do vento. Ouço o tilintar das ondas do mar. A praia está deserta, minha insônia é incerta. Pisco os olhos incessantemente, debruço-me sobre as grandes janelas brancas, sonho acordada, ainda há esperança.
Avisto uma sombra, um estranho vulto se aproxima,
minhas mãos ficam trêmulas, suadas, sinto um arrepio, será meu capitão do mar
que partiu? Ascendo as velas, permaneço na espera... Escuto passos, pessoas
rindo, um casal de namorados caminhando entrelaçados. Coço os olhos, pensei que
fosse meu bem amado.
Sua fotografia exposta na estante faz me recordar seus
tempos de militante. Sempre foi um grande aventureiro, um sonhador, um
viajante! Sozinha na madrugada, por muitas noites esperei por sua chegada.
Fixava o olhar no horizonte, mas não via nada. Por certa vez, avistei um navio
passar... Fiquei corada, sentindo o coração palpitar, crente, ajoelhada, em
silêncio para não gritar. Mas ele foi embora, juntamente com as ondas do mar.
Caminho de lá pra cá, não sinto o tempo passar.
Pálpebras pesadas e meu marinheiro distante de sua amada. Preferia que fosse um
mero pescador, assim não haveria mais tédio nem dor. Ao entardecer sempre
estaria a companhia do meu amor.
Na penumbra, a meia luz, o sono vem e me seduz. Mas o
corpo estremece, deito, viro, rolo, nada me apetece. Tendo adormecer, pois
somente em meus sonhos, meu bravo amante aparece. O calor aumenta, o suor me
aquece. Tomo água, molho o rosto, amarro os cabelos e até chupo gelo. Nada
adianta, é a ausência dele que me desencanta. Mais uma noite sem fim, até meu
marujo voltar pra mim. E todos os dias é a mesma história, sua doce lembrança
não sai da minha memória.