Em busca da Dona Felicidade





Era uma vez...
     Uma joaninha preta com pintinhas vermelhas. Ela era muito pequena e travessa e adorava voar pelo céu colorido da floresta. Essa joaninha tinha muita pressa de encontrar alguém. Esse tal de alguém tinha um nome, era chamado de a Dona Felicidade. Astolfita usava um laço de fita amarelo com bolinhas cor de vinho entre suas duas anteninhas. Elas captavam qualquer tipo de som porque eram muito antenadas inclusive para ouvir as tantas histórias contadas pela vovó Benedita, uma joaninha vermelha com pintas pretas. Ela fazia tricô enquanto assistia ao noticiário e mesmo assim não parava de blá, blá,blá e de tantos comentários. Um dia muito curiosa, Astolfita perguntou para a sua avó:


        - Vovó, por acaso, a senhora sabe aonde mora a Dona Felicidade?
Quase roncando em sua poltrona de folhas secas, a avó respondeu meio sonolenta:
       - O que você falou? Torta de nozes? - pois é, as anteninhas da vovó pareciam estar meio entupidas com cera de abelha...
       - Aff`s, não vovó, eu quis dizer a DONA FELICIDADE.
       - Ai, nhac! Quase mordi a língua de susto menina! Não precisa gritar, porque a vovó está zzz... Ela está aonde você deve estar...
        - Urgh, eu não entendi nada vovó, e ainda a senhora continua cochilando e roncando!
      Muito esbravejada , Astolfita saiu batendo suas asas céu a fora. Pegou sua mochila de margarida, voou e foi embora   em busca da Dona Felicidade. Ela estava tão estabanada, fazendo careta de tão brava, que quase atropelou o senhor Bem-te-vi. 
        - Bem te vi por aí? Por que tanta pressa, joaninha de fita amarela?
        - Estou procurando a Dona felicidade, você conhece?
      - Eu amo cantar por aí e alegrar a vida das pessoas  com música. Não, nunquinha a vi, mas sei de alguém que talvez conheça...
       - Quem?
       - A cigarra Crispina, ela ama assoviar feito uma buzina em cima das gotinhas do orvalho.
       Astolfita voou e voou e encontrou a cigarra assoviando deitada sobre um fininho galho seco.
       - Gri gri gri quem é você? O que faz por aqui?
       - Sou uma joaninha de pintinhas avermelhadas procurando desesperada...
       - Chiú chiu, calma filha, relaxa, respira, fale mais devagar senão sua língua vai enrolar!
       Astolfita comeu uma folhinha de maracujá, puxou o ar dos pulmões e disse:
       - Eu quero saber onde está a senhora Felicidade, você sabe?
     - Eu não sei, mas eu amo assoviar, cantar e brincar com essas gotinhas do orvalho. Penso eu que a formiga Giorgina saiba de alguma felicidade. Será que ela também tem patas?
     E lá se foi novamente a pequena joaninha, viajando sem parar. Ela precisava descansar e encontrar algum lugar para comer e relaxar as costas. Afinal, sua mochila estava um tanto pesada. Ufa! Aliviada, ela pousou sobre a folha de um pessegueiro e dormiu pensando que era o seu travesseiro.
       - Ah, o que é isso? A folha está andando sozinha? Socorro! - Gritou a joaninha.
       - Ha ha ha, nem precisa se preocupar, nem percebi que tinha um inseto voador aí em cima.Desce já daí menina!Essa folha de pessegueiro eu estou carregando para o meu formigueiro!
       - Você disse formigueiro? Então você é a formiga Giorgina?
       - Trabalhando sempre ao seu dispor senhorita! No que posso ajudar?
       - Eu preciso encontrar a Dona Felicidade, sabe aonde ela está?
      - Na verdade não, mas estou muito feliz com essas folhagens e migalhas de pão jogados aqui no chão. O inverno está para chegar. É preciso trabalhar para alimentar minhas amigas e companheiras formigas.
       - Hmm...
     Pensativa e um tanto chateada, Astolfita agradeceu a carona. Com suas anteninhas bem antenadas,ela ouviu o último conselho da formiga antes de seguir em sua jornada:
      - Talvez o beija-flor do amor possa te ajudar! Até logo e faça uma boa viagem!
      E voando por tantas paisagens e flores perfumadas, ela logo avistou o beija-flor tomando água.
       - Dama-da-noite? 
       - Falou comigo senhor pica-flor?
     - Pequena joaninha, escondida atrás das pétalas das minhas florzinhas, olhe para o céu, ele está hoje meio cinza-amarelado feito néctar dos meus gerânios perfumados!
       - Por acaso isso é a felicidade?
      - Sou um beija-flor de bico fino e alongado, quando beijo o mel sou um passarinho apaixonado. Sou feliz beijando flores, essa tal de felicidade está por aí, no beijo de mil amores.
      Astolfita bem que queria continuar ouvindo aquele pássaro beijoqueiro recitar poesias, mas a escuridão da noite estava vindo substituir a luz do dia.
      - Chuác chuác pequena joaninha, talvez o inseto de traseiro iluminado saiba o paradeiro dessa Dona Felicidade.
      Astolfita já estava desanimada e com muitas saudades de sua casa. Ela sonhava com os biscoitos de erva doce que sua avó preparava para a festa das laranjeiras. A noite trazia o vento fresco da primavera quando o sol se pusera. O hino da madrugada era embalado pelo som da coruja-buraqueira que chirriava sem parar. Astolfita olhava para as estrelas e divagava pensando na Dona Felicidade:
     -  Onde a senhora está? Até a lua está tão cheia e tão perto de mim. Será que a minha busca terá um fim?
      - Lua? Agora o meu traseiro é confundido com uma lua iluminada no céu? - Disse o vaga-lume viajante.
      - Lua, você fala? - Perguntou Astolfita.
      - Hum, acho que essa joaninha só pode estar meio maluca. Onde é que você bateu a cuca, hein? 
      - Ops! Um vaga-lume!
      - A lua que não é, uma joaninha que tem seis patas, tem também muito chulé!
      - Você também é poeta?
      - Não sou poeta, sou poético. Sou um viajante que ilumina a noite.
      - Quem ilumina a noite, sabe aonde está...
      - A Dona Felicidade? 
      - Você sabe?
      - Não, apenas te ouvi viajando com as estrelas meio lelé, não é?
      - Buá...
      - Hein, eu disse que eu não sabia, mas sei quem sabe!
      - Quem sabe o quê?
      - Ai ai, joaninha de carinha lelé, a coruja-buraqueira que faz buraco na areia e fica lá no alto das árvores...Ela vê e sabe tudo o que quer. Passeia pelas cidades e pousa nas chaminés. Voa voa atrás dela, antes que ela dê no pé!
    A joaninha abriu suas asas e voou tão rápido como um cometa que atravessa o universo. Foi logo encarando aquela ave de rapina de pequeno porte, cor-de-terra, de sobrancelhas brancas e olhos amarelos.
     - Coruja barraqueira, se a senhora enxerga até na escuridão da relva, me fala por gentileza, aonde está a Dona Felicidade?
    - Pequena joaninha de pintinhas vermelhas e pretas, ou seria pretas e vermelhas? Estás tão ansiosa que até troca as palavras!
     - Sou preta com pintinhas vermelhas! 
     - Sou a coruja-buraqueira e não barraqueira. Meu campo visual é limitado mas tenho uma ótima audição. Costumo viver e sobrevoar terrenos baldios, praias, campos, cerrados, pastos, e até em aeroportos.Já andaste de avião?
     - Não! E a senhora felicidade, sabe aonde está?
     - Essa você já deve ter conhecido em sua viagem até aqui, não é mesmo?
     - Eu? Não?
    - Não? Pensei ter visto lá do mais alto galho da mais alta árvore uma pequenina joaninha conversando com um bem-te-vi cantor, uma cigarra divertida, uma formiga trabalhadora, um beija-flor apaixonado, um vaga-lume companheiro de traseiro iluminado... Ou será que estou enganada?
    -Sim! Mas nenhum deles soube me contar aonde estava a Dona Felicidade das histórias da minha avó Benedita. 
     - Sim!
     - Não!
    -Sim, mas essa joaninha de anteninhas tão antenadas estava tão apressada que não prestou atenção nas histórias que foram contadas.
     - Não?
     - Sim!
    - O bem-te-vi é feliz cantando para os seres da floresta. A cigarra é feliz assoviando e brincando com cada gotinha de orvalho. A formiga é feliz trabalhando e dando o alimento e o sustento as suas amigas e companheiras. O beija-flor é feliz apenas por beijar flores. O vaga-lume é feliz por iluminar sua noite e te fazer companhia. A sua avó é feliz por estar contigo todos os dias. A Dona Felicidade está aonde ela deve estar, aonde nós queremos que ela esteja. Cada um de nós tem sua função na natureza. A beleza dos seres está na diversidade das espécies. Voe Astolfita, pequena joaninha do laço de fita amarelo. 
     Astolfita voou, e voou de volta para sua casa levando em suas anteninhas antenadas a Dona Felicidade.

Fim







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